Those Walter Mitty moments

| Aqueles momentos Walter Mitty |

Já alguma vez tiveram um momento Walter Mitty? Aqueles momentos em que sonham acordados com algo que desejam muito ou desejam que estivessem a viver uma realidade diferente da vossa? Falo mesmo de algo quase físico ao ponto de ficarem imersos nesses sonhos acordados, um pouco como no filme A vida Secretade Walter Mitty baseado numa curta história escrita por James Thurber para arevista Americana The New Yorker em 1939. Recentemente ficamos a conhecer Mitty no filme de 2013 com o mesmo nome, e devo dizer que é um filme que devem ver, principalmente se estão neste momento naquela fase da vida em que as coisas não estão como deveriam estar, ou se sentem que poderiam ou deveriam estar a fazer algo de diferente com as vossas vidas.


Eu cresci a sonhar acordada para dizer a verdade, em criança sonhava que seria uma Rock Star, depois estrela de cinema prestes a receber um Oscar. Cheguei a abrir com uma amiga no salão de cabeleireiro da mãe dela um escritório de advogados mas quando falamos sobre que tipo de casos iríamos aceitar chegamos à conclusão de que ‘Divórcio é o nosso limite. Há muita coisa envolvida!’ ao qual todas concordamos. Quando não resultou, tentamos abrir no quintal nas traseiras do mesmo salão uma fábrica de pensos higiénicos. Para tal achamos boa ideia para perceber como eram feitos ‘roubar’ os da mãe da minha amiga testando-os com ampolas para as mises, daquelas mesmo que tornam os cabelos das senhoras azuis. Lembram-se? Já não se vê muitas senhoras com um cabelo azul, pois não? Podem imaginar o que aconteceu quando as nossas mães descobriram que as senhoras ficariam sem ampolas azuis pelo menos durante quase 15 dias! Pois, mas isso não me impediu de sonhar e na adolescência foi o descalabro, com sonhos uns atrás dos outros: actriz, astronauta, médica, cientista, dona de hotel de charme (isto antes da ideia ter-se tornado num boom! Pois é.), enfim é só dizer que eu provavelmente queria ser. Queria ser tudo, e viver tudo. Mas naquela idade, acho que é normal porque achamos que somos eternos e vamos ter tempo para tudo ou que a vida é curta e há que viver tudo ao mesmo tempo. No filme há o exagero, de ele ficar tão imerso nos sonhos que não vê nada nem ouve ninguém enquanto ‘viaja’, e posso admitir que também já me aconteceu. Dependendo da fase da minha vida, maior ou menor é a intensidade do sonho.

Lembro-me quando a minha filha tinha uns 3 anos, e estando eu numa fase profissional péssima e tecnicamente falida sem prospecção de trabalho, a viver em casa dos meus pais quando tive que começar a trabalhar num Call Center. Na altura regressara à minha terra natal, fui informada que abrira o tal novo local onde toda a gente queria trabalhar, não pagavam mal e seria um trabalho pacífico, diziam-me. Desmotivada, inscrevi-me e lá fui chamada uns dias depois para uma formação. No primeiro dia, senti um nó do estômago, não era para ‘aquilo’ que os meus pais tinham investido tanto na minha educação fora do país. Conhecem esta ladainha? Pois, eu senti inclusive vergonha como se estivesse a fazer algo feio, sem valor. Como eu estava enganada. Logo nesse primeiro dia, vi que os meus colegas eram quase todos um pouco mais novos, mas todos formados e alguns com carreiras de sucesso na carteira. Todos, sem excepção sentiam o mesmo. Durante os quinze dias de formação, formamos um grupo bastante animado, brincámos com a nossa situação e as nossas figuras ao tentar atender clientes após termos sido aceites para integrarmos as equipas. Graças à genuína forma de ser dos meus colegas, os dias foram bastantes aprazíveis dentro daqueles pequenos cubículos. Para mim, percebi mais tarde que o  importante era estar em movimento a fazer alguma coisa, e principalmente providenciar para a minha filha. O resto viria, mas o importante era nunca desistir.

Na altura não tinha carro, e a distância entre onde vivia e o local de trabalho era de cerca de 12 quilómetros. Decidi começar todos os dias fazer essa caminhada a pé enquanto usava o mp3, um presente de uma amiga que me dizia ‘tens que ouvir música pelo menos uma vez por dia, ajuda a relaxar!’. Ouvi este conselho e segui-o, sem saber que ao ouvir música enquanto caminhava aqueles quilómetros me iria impulsionar a sonhar. A pensar no que queria fazer de verdade. No que eu acreditava estar destinada a fazer ou como é que eu me imaginava no futuro. Na altura eu ainda não tinha ouvido falar de O Segredo, nem da Lei da Atracção, o que sabia era que eu era uma pessoa de fé e que sonhar sempre fez parte do meu ADN. As minhas afirmações limitavam-se na altura a ’eu vou conseguir’, como e quando, isso eu não sabia. Mas se a fé me tinha ajudado em alturas tão duras, como quando a minha mãe adoeceu e infelizmente partiu, nesta fase eram favas contadas. Mas conseguiria, eu atingir os meus objectivos? Naquela altura trabalhar para as Nações Unidas e outras ONGs em países subdesenvolvidos parecia completamente impossível não só porque sim, mas principalmente porque era mãe de uma menina pequenina. Houve muitos momentos que quase desisti, outros voltei a ter esperança. Quando o dia-a-dia consegue nos morder com a realidade, é nestas alturas que temos que escolher o que ouvimos dos outros e quando ouvimos a nós próprios. Porque é precisamente nestas alturas, que os coros de conselhos muitas vezes não requeridos nos atingem com negatividade. Depois do Call Center ainda trabalhei para a uma ONG Portuguesa e para um Jornal de referência Português, e ainda tentei ser imigrante (onde falhei redondamente!), e quando estava quase a desistir tive a minha grande oportunidade e fui chamada para a minha primeira oportunidade de trabalho que tanto queria e com a organização que queria mas com um pequenino senão, era no Afeganistão!

Tal como o Walter Mitty, a minha segunda grande oportunidade de começar a viver o que sempre sonhara passou pelo Afeganistão. Conseguem acreditar? Quando recebi a chamada, que todos sonhamos quando estamos na ‘fossa’ nem me lembrava que tinha concorrido tal era o meu estado de espírito. Aparentemente estavam a tentar ligar-me pelo menos há dois dias quando finalmente conseguiram ‘apanhar-me’, isto porque aparentemente alguém desistira. Foi a minha grande oportunidade e graças à minha família, isto porque ninguém é uma ilha, lá fui eu. Acreditem, não sei se foi o meu estado de euforia e gratidão misturado com felicidade mas tive uma missão linda. Sim, no Afeganistão! Conheci um povo maravilhoso, colegas com quem aprendi imenso e pessoas que admiro sem fim com quem continuo a trabalhar ocasionalmente. 


A aprendizagem continua, os desafios estão sempre a aparecer e vou dizer algo que pode parecer um cliché mas que para mim é muito verdadeiro: Não nos podemos deixar definir pelas armadilhas que a vida nos vai pregando. O meu sonho continua, ainda não estou onde quero. Estou mais perto, mas a caminhada ainda agora começou. Ser mãe solteira, não me impede de nada, dá-me mais força porque quero que a minha filha olhe para mim e veja alguém que independentemente da idade sonha e luta porque tudo é possível, tudo. Não podemos moldar a próxima geração baseada na crise actual, o que não nos impede de lhes dar armas para serem independentes enquanto sonham e lutam pelos seus objectivos. Mas isso é diferente de  ajudarmos a enterrar os seus sonhos, simplesmente porque ao longo do caminho houve e haverá sempre alguém  a dizer ‘Não é possível.’  Só não se esqueça que sonhar é bom, mas viver é muito melhor.

amniotico

Sónia is the founder and writer of Amniotico- Parenting, Travel and Tales. She began this blog in 2005 with two posts about parenting, the year she had daughter Francisca. Then life happened. Now since 2014 with a whole new focus on Parenting and Travel. Sonia is also an international Human Rights and Elections expert and as such has worked with the United Nations and European Union in many parts of the globe, including conflict and war torn countries while being a single mom!